Onde limite é a virgula e não o ponto.
Tango Tensão
29/08/2013 08:13Este nosso tango é tensão,
Do encontro dos olhos penetrando-se à íris
Das mãos atadas em nó
Dos braços em laços na nua cintura
Da sua unha crua cravada nas costas
Violenta esta dança,
Que retesa as cordas da orquestra
E eriça as madeiras...
Eu avanço com ímpeto
Você, reclusa
Recua, recusa
Aceso, não cesso
Acesso ataque intermitente,
Um furor em ondas...
Com passos cadenciados
Cingidos por um Bandoneon
E num improviso ensaiado
Bailo as pernas entre suas coxas
Rasgo passagem à luxúria...
Você então atordoada,
Vai se despedindo da sanidade
Gira girando, afastando-se de si...
Volta em voltas, rodeando a mim...
Lábios magnetizam-se
Línguas encontram-se úmidas
Circulantes...
Pianíssimo que entra suave
Através de um salto agulha
Perfurando na minha a sua carne,
Costurando nossos músculos
Fundimo-nos
E rodopiamos... Incontornáveis...
Você se abandona à sinfonia
Despindo-se do pudor, entregando-se à libido
A atiro no palco, tirando minhas vestes
Você deita, aceita
Lençóis rubros em cetim
Sua orquídea voluptuosa
Acordando o tigre em mim...
Dentes rasgam roupas e expõem pétalas
Vaporizando aroma incontrolável
Hálito de sal e jasmim
Minha boca passeia na sublime anatomia
Ansiosa é a saliva,
Entumecendo seus botões, que suspiram
Os violinos gemem...
A orquídea abre-se inteira, revela-se
Em lascivo convite
De curvas aveludadas
De orvalho carmim
O felino espreita, mas quem abocanha é a flor
A milonga continua
Mudando o sentido...
Este que foi um inesperado corrupio
A bela monta a fera
E o tigre agora é a presa
Cavalgado pela flor
Preso em sedosa magenta
Da insaciável selvagem...
E o tango vai se tornando dramático
Tocado entre espinhos e garras
Em estocadas secas do contra-baixo
Em úmida viola
Tímpanos que estouram
Corpos que suam uníssonos
Respirações que sussurram
Sons do frenesi... Que valsa!
O tigre branco no corpo cavernoso
Meu gozo enjaulado
Prestes a libertar-se
Um violino surge triste
Um ensejo angustiado
Sinto repentino abraçar das pétalas
O tigre com as listras em relevo
Circulantes...Vermelhas...
Sangue fervendo leite
Prenuncio do que foi seu grito
Rufam os corações
Em percussão ígnea!
....................................................
Leite derramado...
O próprio êxtase chora a música
Tango tensão
Escorrendo entre as pernas
No choro meloso de sua orquídea...
Texto: Maurício Gervazoni
Imagem: dreamchoosers.com
Curtiu?Curta:https://www.facebook.com/poesiassemfronteiras
—————