Onde limite é a virgula e não o ponto.


Romeu e Julieta

25/03/2014 06:55

 

Romeu e Julieta 

Era uma vez, uma estória em um sonho-de-valsa. Embalando a valsa de um sonho açucarado que saboreei...
E foi dormindo que me acordei...
Enquanto nuvens de algodão-doce choviam mel. O quindim a pino brilhava fios-de-ovos, iluminando em raios o toucinho-do-céu. Tal fenômeno resultou em um edulcorado arco-íris. Neste dia de sol e chuva, repousava eu os olhos nela. Ela nos meus. Ambos, caramelos amalgamados. Derramados estávamos. Esparramados em chão de gelatina colorida. Protegidos por sombra meiga de uma macieira. A bela árvore guardava nossa louca fantasia nas frutas vermelhas. Nas frutas, esplandecia uma calda pétrea. Ao nosso lado, balas e jujubas desabrochavam. Sortidas em muitas cores e aromas; anis, framboesa, laranja, limão, morango, tangerina, uva e muitas outras... Estas flores enfeitavam um extraordinário jardim afetuoso. E o néctar acanelado no ar enfeitiçava os insetos e pássaros que se aproximavam de nós. Ana-Maria e eu enamorávamos. As maçãs-do-amor dependuradas no pé refletiam as maçãs do rosto dela. Quando eu sorri, a tez de leite-moça acerejou. Percebi na tímida feição, meu pudim de afeto. Os dedos do meu pé-de-moleque esgueiravam entre os delicados dedos-de-moça. Era dia de Cosme e Damião. E os anjos nos presenteavam com dádivas adocicadas. Passamos a manhã toda assim, nos admirando. Depois almoçamos doces palavras. Versos de sobremesa. Já à tardinha o tempo mudou-se para outro lugar. Assim como surgiram, os bolinhos-de-chuva se dissiparam. Entardecemos juntos a um céu de brigadeiro. O amor estava suspenso no ar. O por do sol matizava o firmamento em bandeira trêmula. Os primeiros biscoitos começavam a estrelar no horizonte, convidando Nhá-Benta a cintilar à noite... Meu coração batia junto ao dela “Bom-Bom”, “Bom-Bom”. Estávamos loucos para experimentar um beijinho. Ambos ansiosos por mais um pedacinho. Um rouxinol começou então a cantarolar... Fadas trufadas, abelhinhas dulcificadas e até um bicho-de-pé apareceu para acompanhar o sarau. Eu e minha paçoquinha sorvíamos o suco melódico de canudinho. Foi aí que meu papo-de-anjo rendeu um bom-bocado. A menina impetuosa tiniu “Meu camafeu”... Eu retini "Meu cajuzinho". Um Suspiro! Ah! Meus lábios de mel deixaram a Maria-Mole. Foram rápidos beijinhos. Apenas selinhos. Mesmo assim manjares dos Deuses. Aqueles momentos selaram nosso destino. O mundo naquele instante parecia sublime como o chocolate é...
Tudo que é bom, dura pouco e para sempre...
Foi quando o belo-horizonte desmanchou-se em chantilly. E nosso colchão-de-noiva desfez-se em arroz-doce. De espiadela percebi o olho-de-sogra. A pamonha foi logo desenrolando a língua:
- Vai se pirulitando daí meu doce-de-leite, que cuidei de ti a pão de ló!
De faca na mão cortou nosso bolo:
- Para namorar esse rocambole de goiaba docinho, só se estiverem bem-casados.
Congelei eu em picolé... O rouxinol que havia entregado a rapadura e foi-se embora. As fadas e abelhinhas pipocaram. E até o bicho-de-pé se escondeu em um rabo-de-gato. Meu amor se envergonhou e chorou soro... Quanto a mim... Senti-me um goiaba...
Olhando meu polenguinho naquele estado respirei coragem. De sobressalto dei um pulo e fiquei em pé! Estava resolvido a adoçar aquela língua-de-sogra.
Peguei nas mãos do meu sabor. Como se segurasse seu coração. Ajoelhei. E em uma oração, pedi meu melindroso queijinho branco em casamento...
Ela apertou minha mão assentindo. Foi com firme delicadeza que se uniu a minha goiabada. Entrelaçamos os dedos em aliança. E não havia ninguém que não estivesse apetecido com tais núpcias.
Então anunciamos a guloseima a todos os sonhadores do mundo. À aqueles com a imaginação mais gulosa. Aos insaciáveis glutões de fantasia. Enviamos nosso convite para provarem de uma união mágica...
Como Romeu e Julieta, declamamos:
Sonhamos na eternidade de uma mordida... Ser o par-perfeito.
E até hoje para deleite de todos, vivemos felizes para sempre...

 
Maurício de Carvalho Gervazoni
Mais de mim: https://www.sem-fronteiras.net/news/o-feirante-trovador/
 
 
 

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