Onde limite é a virgula e não o ponto.
O Lobo
29/04/2013 19:15Uma estória do mais solitário dos lobos
O lobo cinza que escondeu sua tristeza na multidão
E que buscou ingênuo na alcatéia o que não conseguiu compreender em si
Perdeu-se então, diluído entre outros
Cinzas, todos
Mutilados
Nas festas, no barulho dos carros
No interminável vai e vem, despropositado dia a dia
Na floresta opaca das máquinas, onde moram os lobos cinzas
Árvores de concreto e trabalho
Novela repetida
Conversas sem fim nem nexo, na semana que passa
Ansioso para preencher o vácuo de sua existência na fumaça cinza de um cigarro,
Na conversa do boteco, em rodadas intermináveis de solidão
Assim sobreviveu, o lobo
Angústiado
E entre amores perdidos e encontrados, desprezou a si mesmo,
Sem jamais ter reconhecido seu melhor amigo
Nao teve orgulho do que se tornou
Entre os seus, finalmente feneceu
Morreu sem saber
Só, na multidão cinza
Cremado pelo inevitável incêndio da floresta
Suas cinzas espalhadas ao vento pelos lobos da alcatéia
Diluído no céu cinza de uma cidade opaca
Texto: Maurício de Carvalho
Imagem: Google Images
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