Onde limite é a virgula e não o ponto.
Lunático
19/04/2013 21:00Passei o dia todo no mundo da Lua
Sem saber a onde ir, sem ter como voltar
Em casa, já tarde da noite, um único desejo
Dormir...
Ansioso que estava em deparar-me, não consegui
Levantei-me então, a procura do destino
Como que atraído pela gravidade, abri-me a janela do quarto
Contemplei...
O pensamento alçou vôo, atravessando a exosfera, orbitando o satélite
O fascínio de sua luz cinérea foi imediato, hipnótico
Percebi,
Não existe volta nem destino a aqueles que acreditam ser capazes de caminhar sobre a Lua
Precisa, Coragem
Quem tem, esta prestes a encontrar-se em lúgubres crateras de areia cinza
Quem consegue, ressurge
Fiz minha prece ao Astro
Impossível retratar-te, pois esteve aqui desde sempre
E eu, orbitando...
Apolo e Ártemis; Sol e Lua
Opostos e complementares, como o são dia e noite
O calor e o frio
Sensações distintas
Irmãos inseparáveis
E eu, orbitando...
Um diamante no céu, lapidado por cometas e meteoros
Artemis nua no quadro negro, cercada por ninfas, estrelas...
E eu, orbitando...
A Lua é a maestrina das mares
Sua orquestra é formada pelas águas
Que rege com precisão
A batuta é visível para os que acreditam no incomensurável
As mares que sobem
As mares que descem
O sangue que circula
Cachoeiras que desabam,
Lágrimas
Toda água é tua
E tudo é água neste mundo
Neste momento singelo, deixo de orbitar e me deparo com o desatino
Me emociono
Também sou água
E a lua transita em fases, como eu
E a lua tem sua face oculta, como eu
E quando a noite vem, é impossível para mim, dormir sem sonhar...
A lua sonha?
Lunático que sou, nasci para ir de encontro ao que nasci para ser
Lunático...
Que destino então tenho eu, que não seja meu o seu desejo?
Estou na Lua ou ela quem sempre esteve em mim?
Que vivacidade é esta, que cresce e míngua em ciclos?
Quando minguante, melancólico e perceptivo, me recolho a arte
Aprendiz então
Sensível a pensamentos e reflexões, tão necessários a vida
Quando nova, estou em conjunção com o sol, que me abraça com raios o lado negro
Sua luz ígnea trazendo calor, renovando o ser
Carinho que aquece a superfície e atinge o núcleo, tão necessário a vida
Quando cheia, no apogeu da exuberância, transbordo minha luz no mundo
Toda água sente,
Ás mares sobem,
Poetas fazem poesias,
Casais exalam perfumes,
A música ecoa,
Os ânimos se exaltam,
Todo gelo sublima,
A vida significa!
E todos
Todos os lobos choram em minha homenagem
Uivam preces ao diamante solitário
Cintilante luz cinza do farol que ilumina
Pavimente o caminho de uma existência que valha a pena
Pavimente o caminho daqueles que escolheram pensar, viver
Afinal, em sua infinita beleza, Artemis não seria, se não fossem os lunáticos
Aqueles que acreditam em ti, e tem coragem de caminhar
Desvendando teus mistérios, elucidamos os nossos
Conhecendo o infinito em nós, desbravamos o universo
Tudo é água
Olhei então uma última vez para céu, para Lua
Nova
Fechei a janela
Quarto minguante
Deitei
Fechei meus olhos
Deixo então de existir, mas não de sonhar
Lunático que sou
A Lua orbitando ...
Texto: Maurício Gervazoni
Foto: Google Images
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