Onde limite é a virgula e não o ponto.


Imperfeição

10/06/2013 20:21

 

O que sou senão pretensão?

Investida em delicadas linhas no grosseiro traço do carvão

Um esboço mal acabado, um desenho em formação

 

O que sou senão intenção?

Pequena partícula carregada de imensidão

Um elétron no átomo

Um ínfimo ponto invível a olho nu

 

Perceptível apenas pela própria solidão

Indivíduo finito, limitado

 

A busca inútil em transpor rarefeito ar              

De encontro à galáxia

Em beber do leite da Via Láctea

Em sonhar saber o sabor da verdade e do mundo

 

E tão vasto é o universo

Um átimo de infinito

Tão distante se não imaginado

Tão intangível quanto esta própria oração

Tão distinto

Tão sublime

 

Que pacto é este que tem com minha alma?

Se nada sou e você é

Coração e estrelas que pulsam...

Ligação covalente inconcebível

Eu em você, em mim

Qual a razão?

 

O que sou eu senão um pedante poeta?

Um peregrino dos sonhos, procurando por respostas

Um sim, um não, um talvez, nunca...

 

Poeta arrogante, porque não se cala?

Cerra os olhos e vá aos confins de seu próprio universo

Esconda-se então no buraco negro

E guarde seus anseios para si

Padeça no recôndito da alma

Pois ninguém liga para estes absurdos

São todos surdos

 

Que eternidade é esta que sugere em palavras mal constituídas?

Poeta de traços e mãos sujas pelo excessivo uso do carvão

 

Longínquo quasar de brilho mais intenso que o sol

Inconcebível o que pretende a essência desse trovador ao comparar seu cintilar

Que Deus irá permitir tal insulto?

Tal fogo-fátuo?

Se não e somente pós-morte?

 

A feição de Deus

A imperfeição das palavras

A vã tentativa do poeta de grossos e tortos traços em uni-los

E no piscar de olhos, a vida surge e evanesce

Corações e pulsares juntos a pulsar e parar

Infinita a mente...

 

Texto: Maurício Gervazoni

Imagem: Google Images

 

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