Onde limite é a virgula e não o ponto.


Asas cortadas

09/09/2013 07:40

 

 

Menino na gaiola

Sonho que sou águia

Dentro do sonho

Que sonho em voar 
 

Há tempos que fui 

Recém nascido 

E ainda estou aqui

Refém no ninho

Vejo meus pares acima do penhasco 

Vivos

Asas abertas que deslizam sobre o invisível

Libertas

Meu par de asas relutantes sob o indizível 

Cativas
 

O vento clama a presença

Através da janela do quarto

Recordando o pássaro em mim

Inspirando ar nos ocos ossos

E não há aposento para tal envergadura

 

Na ventana, o verbo

Meninos correm atrás de uma bola

Sorrisos plainando no céu,

Alegria sobrevôo

 

Meu salve, meu Ave,

É atrás da grade

Num silvo melancólico,

Melódico

 

Ao lado, de lado

Um irmão na cama

Controle na mão 

Sem controle algum

Meu destino em carne e osso
 

Tenho penas

Não posso ter pena de mim

E a gaiola está aberta

Verbo vivo

Vôo em chama

 

Sou pássaro renascido

Recém criado

Passado em casca esquecida,

Desaquecida, pardo

 

Caio então do ninho

Lágrimas que desfazem o cárcere

Fechando os olhos

A fantasia é lúcida

 

Em primeiro adejo rasante

Um glorioso mergulho no paraíso

Onde o ar quente vem de baixo

Do coração circulante

 

Naturalmente que me abro

Abraçando Zéfiro

Estou pairando no ar

Quase parando

 

Nas pradarias da alma

Trespasso nuvens

Em meu azul celeste

Observo o mundo em acurada visão

 

E dessa altura a linha do horizonte é outra

Meu horizonte é belo, curvo, Sol

Como as asas, o verbo, a vírgula

O vento em movimento

 

Esvoaçando fantasmas

Caçando memórias caudalosas

Em rios de águas geladas

Em sobreiros e sobrados

 

É flutuando na relva

Em planície vasta

Que reconheço minha casa

No sonho dentro do sonho,

Meu espaço sideral

 

Deus! Isto sim é verdadeiro...

.......................................

 

Um grito cortante do irmão

E se vão às asas...

Loucura acordar

Assentir em acordo

Num desacordo dormir

 

Caio então no limbo,

Lágrimas que refazem o cárcere

Abrindo os olhos,

A realidade é sombria

 

Na vigília que enforca o sonho

Fora do sonho vai sufocando a mim

Desunido da alma,

Um perigoso Anjo caido

Um Eu, sem verbo

 

Texto: Maurício Gervazoni

Imagem: https: Google Images

 

Curtiu? Curta:https://www.facebook.com/poesiassemfronteiras/

 

 

—————

Voltar