Onde limite é a virgula e não o ponto.
MAIÚSCULO e minúsculo
28/02/2014 23:00MAIÚSCULO e minúsculo
I
Nasci e logo me colocaram em um bonde
Lá pra donde me quiseram - num sei aonde? -
Era pequeno e não escutavam minha voz
Puxava a saia da mãe, arrastado pela mão grande (porta-voz)
Quando criança só pensava em crescer
Ser grande parecia maior - melhor que eu –
Talvez comprido, esticasse a minha fala
Desadormecendo o pranto, nos sons da amígdala
II
Remédio amargo foi aquele que tomei
Obediência em gotas cegas era a boa lei
A boca em zíper aberta a fórceps...
Mamãe obrigava - e a colher apertava –
Assassinaram-me ao ensinar o “porque sim!”
“Porque não!”, sempre foi a dada razão
Ah! E como eu perguntava...
Como azucrinava aquela cria malfadada...
III
Adulto, aprendi que grande mesmo é ser menino
E gigante é a casa que me abriga a oração
A alma... “Eu” nu investido em luz... Viva na pulsação...
O infinito... Escuro Universo que reluz... é pequenino...
IV
Lembro-me de um tio, e de um rio
Da moto que subiu a nossa margem
Da aragem na garupa, do sorriso com asas
Meu presente no aniversário, o ar...
Coragem D´eu quando pulei do trem em movimento
Escapei daquele intermúndio de abafamento
Desde então que me poeto... e declamo amor ao vento...
Suicidei o Narciso que fizeram... aquele breve aposento...
Agora piloto a vida em duas rodas
Deixei para trás todos os quadrúpedes
Sentado nelas, viajo na garupa do ar
Quem sabe minha futura quadra será lufar?
Quem desprende a alma tem precisão de voar
Rasante nas margens brancas de qualquer lugar
Eu desaprendo o “homem-sombra” em letras rubras...
Cantando sobre o “menino-obra” em versos leigos...
Escreveram-me para ser MAIÚSCULO
Isto quando fui um pequenino adulto pequeno
A paixão pelo vento enxergou-me... fez-me grande!
E encontrei sublinhado em negrito... um bendito menino
Texto: Maurício de Carvalho Gervazoni
Mais de mim:www.sem-fronteiras.net
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