Onde limite é a virgula e não o ponto.


Dois Mil E Quatorze Agradecimentos

11/01/2015 07:59

 

Dois Mil E Quatorze Agradecimentos
 
Não foi nada fácil. Isso foi o que escutei  de muitas pessoas. Talvez não tenha sido mesmo. Mas não posso reclamar. Aliás, só tenho a agradecer. A impressão é que fiz muito mais nesse ano do que em outros. Mesmo tendo aquela sensação de que doze foram seis. Como dizem por ai, o tempo saiu voando. E não foi? As nuvens voaram sobre os dias enquanto ficamos avoados sob elas. De repente a luz do ano foi se apagando e pronto. Lá se foram trezentos e sessenta e cinco nasceres e pores de sóis. Pergunto. Desses, quantos nós contemplamos? Alguns já foram até esquecidos. Uns gostaríamos até de esquecer. Mas outros serão inesquecíveis. 
Sem dúvida que foram dias claros e nublados. Entrecortados por gargalhadas e facas. Flores e ausências. Beijos e flechadas.
Estou aqui. Ao final do último por do sol. No crepúsculo do ano. Carregando lembranças em duas rodas. De volta da cachoeira Cassarova na cidade de Brotas. Final de tarde. Não é tarde para admirar o horizonte com alegria. Avanço. Satisfeito com a paisagem que deixei para trás. A rodovia à frente me trazendo lembranças das estradas percorridas.
Em 2014, rescindi contratos e casei comigo. Parei de esperar. Passei a esperançar. Movimentei a vida. E ela andou.
No ano do meu quadragésimo segundo aniversário, fui vilão na mesma história em que fui herói. Amei e parti. Parti corações. Costurei alianças. Fiz novos amigos antigos e deixei para trás os velhos. Descartei calçados que não me serviam mais. Ladrilhei novas calçadas.
Quando fiz meu tempo, o café da manhã foi mamão com açúcar. Pão na chapa. Quando deixei o tempo me levar, vesti um pretinho básico e corri a trabalhar. Li bastante, mas deixei muitos livros pela metade. Importante, escrevi meu próprio livro e me livrei das dívidas. Termino esse ano no crédito.
Em 2014, passei por todas as estações. Na Luz, fotografei as crianças em frente à pinacoteca. Na Sé, vi um menino da idade do meu menor cheirar cola. No inverno fez muito calor. Pulei na piscina e usei protetor. Menos no dia em que me queimei. No verão não choveu. Então, não demorei à escovar os dentes. Também economizei a água no banho. Menos naquele dia em que brincamos de mangueira no quintal. A primavera foi linda. Tão florida que quase não percebi o outono. Menos no dia em que folhas amareladas caíram das árvores. Foi lá no Horto Florestal que me dei conta de tanta solidão.
Sempre que pude, comi de panela de ferro e fogão a lenha. Sem pressa, saboreei pratos coloridos. Muitos deles eu mesmo pintei. Outros, pintaram para mim. De um jeito ou de outro, rapei o prato e engordei. Apesar da barriguinha e dos excessos, não me arrependo. Deixo 2014 em pratos limpos.
Dormi cedo, acordei tarde e vice-versa. Versei sobre as coisas do mundo. Comprei coisas. Perdi coisas. Desvencilhei-me delas. Aprendi a versar sobre o que importa, que não são coisas.
Preferi jogar banco imobiliário à "War". "Master" ao invés de vídeo-game. Nesse ano, bati o carro e bateram em mim. Perdi meu celular por duas vezes. E mais uma vez me furtaram. Pus óculos. Importante, enxerguei melhor. Ganhei mais barba branca e infelizmente hemorróidas. 
Bem humorado; corri, brinquei, sorri, amei. Mal humorado; dei bronca, bati, me arrependi. Levei tapas, mas não dei a outra face. Porém, em nenhum momento em 2014 revidei.
Fui amado (bem amado e mal amado). Pedi desculpas e me entenderam. Fui arrogante e mal compreendido.
Durante todo ano, tive a melhor das intenções , apesar do inferno estar cheio delas. Por falar nisso, estive no purgatório e também visitei o inferno algumas vezes. Uma das quais, mensurei valor para estar nesse céu. Paguei um preço alto para entrar no paraíso. Desculpe, não foi preço. Foi valor. E valeu muito a pena.
2014, ano do cavalo no horóscopo chinês.  Propício a mudanças. Despertei da letargia.
Fiquei mais um ano sem fumar. Tudo que bebi , eu mesmo paguei. Bebi, cai e levantei. Tive dias valsa. Tive dias "Ramones". No fone, contemplei o novo álbum do Pink Floyd. Senti saudades de quando era em fita cassete. Descobri que o Vinil agora é moda.  Descobri novas palavras. Uma delas, "vintage". Realizei . O futuro muitas vezes repete o passado como se fosse uma roupa nova.
Fui a um templo budista. Conheci uma linda elfa em um casamento. Ela me lembrou uma versão feminina do Légolas.
 Troquei os congestionamentos pela moto. A segurança do banco Itáu pela aventura no assento de uma Harley. Estou pilotando um cometa com rodas. Cometi alguns erros. Protestei por 0,20 centavos e não lucrei nada.
Por vezes como Daniel San, acertei na mosca. Por outras passei longe de acertar. Importante -Nesse ano, não tive medo de arriscar.
Usei rinossoro. Fiz inalação. Fiquei doente e aviei meu próprio remédio. Fui ao circo e no zoológico. Passei para o avançado no inglês. Fiz um descarrego em um centro espírita. Descentralizei minha espiritualidade. Acredito agora em todos os Deuses.
Corri 10km e fiz muitos gols nessa temporada. Escrevi crônicas, contos, poemas e até um discurso. Exercitei os músculos e a imaginação. Torci o joelho e tive algumas dores de cabeça irremediáveis.
Fiz ressonância. Tive medo, mas não deixei de ser criança. Troquei as velhas obturações. Deixei os dentes mais brancos.
Vi fatídicos sete a um. Não me importei. Nem acompanhei o Timão direito. Depois do Fluminense, não me interesso mais tanto por futebol. Mudei muitos hábitos. Habituei-me a desabituar-me.
Vi minha irmã anunciar o casamento e a gravidez. Fui padrinho e apadrinhei.
Me surpreendi com a eleição. Votei e anulei. Depois me abstive. Não tomei partido de ninguém. Muitas vezes, nem o meu próprio. Não fui oposição, muito menos situação. Suportei mais um ano a imensa corrupção e a falta de educação.
2014 curti arte. Adorei as exposições, os filmes, as séries, as peças. Especialmente me emocionei com o show - Falso Brilhante - de uma Regina que foi muito Elis. No cinema chorei. Foi em um dia interestelar e a culpa foi das estrelas. Walter White morreu e deixou saudade.
Lembrei do Vô, da minha mãe. E do último ano em que passamos juntos. Doei o melhor de mim a meus filhos. Luz à Luíza. Abraço ao Breno. Rua ao Raul.
Esqueci meu chinelo em baixo da cama. Pé descalço. Encontrei um amor para chamar de meu. Transei na rua quando ela estava nua de gente, quando a chuva estava nua na gente.
Fui viajar. Viajei...
No sítio, escorreguei a bunda na grama. Na praia, peguei jacaré. Surfei  no verde e no azul. No campo pintassilgos, tizius, bem-te-vis. Vento nas folhas. Cheiro de mato. Vida florescendo em jardim. No mar andorinhas, gaivotas, sanhaços. Vento no rosto. Maresia. Vida vinda em ondas. Aprendi a respeitar todas as cores, admirando as possibilidades do arco-íris. Caminhei em sol escaldante e brizei. Nadei contra e a favor da maré.
No banco da frente pilotando para 2015 me despeço de 14. Vívido como nunca. Intenso, sincero e verdadeiro. Não foi nada fácil.Talvez não tenha sido mesmo.  Mas foi maravilhoso.
Na cachoeira gelada, tomei o último banho de quatorze. Acima de mim. Acima de tudo. Lá em cima. Lá no céu. Cai chuva dos meus olhos anuviados. Algumas lágrimas. Foram poucas perto dos celestes sorrisos que fizeram parte do céu deste ano. Inevitáveis cicatrizes restarão tatuadas. Inerentes de quem como eu não passou pelo ano. Viveu cada uma das 365 voltas. Girando 360 graus nessa montanha russa, nessa roda gigante, nesse carrossel. Nesse parque de diversão chamado planeta. Escuto teu chamado, Terra. Mais uma chama rica queimou. Nada mais resta a 2014 dizer. Preciso registrar meu agradecimento a você. Que girou o mundo comigo em algum momento nessas 365 voltas. Momento em que demos as mãos e giramos juntos. Se chorei ou sorri contigo, não importa. Foram voltas que voltamos  a nos reencontrar. Passeamos juntos. Foi a eterna esperança que renovamos.
Previsão para 2015: Um novo texto em letra corrida. Com menos erros de concordância. Com mais linhas falando sobre amor do que dor. Pobres, ricas ou preciosas. Quero uma prosa rimada. Animada como um poema. Como a vida deve ser. Poemada.

 

Maurício de Carvalho Gervazoni

Imagem: Brotas Estrada Fazenda Cassarova

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