Onde limite é a virgula e não o ponto.


Astronauta

18/11/2013 07:51

 

Amanhecido e estatelado em teu rosto, senti gosto...

E como gosto deste teu planeta distante, amante

Neste meu alvorecer que foi o crepúsculo de áureo raiar

Anunciei o Sol em versos radiais, na margem âmbar de tua tez

 

Acordei próximo aos lábios

Ancorei onde havia me perdido noite adentro... Há anos...

Escalei-os então... de novo, estas úmidas dobras de terra macia, cereja

No extremo do teu beiço, uma gruta escura, cálida... me chama ... em chama

 

Entrei em despedida, tateando com a língua...

Encontrei o berço de teu idioma incandescente, novamente...

Tua nascente de mel em que fiz meu desjejum...

O beijo doce da tua linguística... Ah! Alimentaste-me em súplicas...

 

Fiz derradeira incursão em teus grandes lagos

Dois largos negros de águas claras em que me banhei

Foi este um mergulho penetrante da minha luz...

A imagem sugada em olhos crioulos, apagada em ti

 

Lavei a alma na breve ausência... vesti a roupa de mim...

Antes, passei sussurro silencioso em meus ouvidos:

_Não posso mais viver assim... sumido dentro de ti...

E caminhei em despedida desta insana imersão em teu mundo

 

E lembrei a noite anterior, e outras antes dela...

Tantas foram às vezes em que pousei e repousei minha nave...

Não fui o primeiro homem a pisar em teu solo

Nem tampouco  serei eu o último poeta poente...

 

Ah! Deus... Tenho que me ir

Decolar a Nau, partir-nos!

Deflagar as memórias!

Debandar este coração astronauta!

 

E em tuas linhas de expressão vincou-se meu tempo...

Rugas reveladas que calam tortuosos segredos

Sulcos que deixei na terra, pegadas que falam do amor escondido,

do recôndito de nós, de um mundo perdido

 

Partindo, vi indo meu satélite

Perdido polo onde me refletia a luz,

Onde explorei cada centímetro de mim nas expedições

Pois que nas curvas escarpadas de teu astro reconheci minha dor

 

E no amago sei quem fui... o que foste...

Porque parti? Atingi ao topo de ti...

E sei tudo sobre tua volátil topografia,

Esta geografia que mudou deveras minha caligrafia

 

Sei que não basta um a povoar-te a superfície

Sei que não basto eu em espécie e gênero

Afasto-me para sempre, por não ser suficiente...

Deixo ao menos hasteada bandeira em teu coração...

 

Maurício Carvalho Gervazoni

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