Onde limite é a virgula e não o ponto.


Amor Liso e Branco

07/11/2013 07:55

 

I

Um dia fui teu brinquedo menino,

Todo dobrado e redobrado

Em elaborados origamis vividos...

Ou nos simples aviõezinhos

Transportando idos sorrisos infantis

Bem-vindos das asas dos tempos...

 

Amanhecia ali ternura consonante,

No barquinho a carregar o soldadinho

Ou no travesso chapeuzinho deste infante

Atravessamos juntos os mares da infância

Na candura colorida a lápis arco-íris

Nos desenhos das íris ausentes de culpa...

 

II

Certa vez, fui seu amante adolescente...

Enrolado e queimado nas arestas

Deitado em doce perfume infantil

Que deixava secar e permear o aroma...

Vezes em que carreguei seu coração juvenil

Embalado em cartão carmim

 

Entreguei seu amor para ela menina...

No confidente diário, suas primeiras carícias

Grafados segredos da inocência roubada

Sua certidão de memórias, do dia em que foi tocado

E pelo impulso dela mulher despertado...

Traçou então passagens secretas em mim

 

III

Começou assim... Sou obra sua,

 

Quando me tingiu ás páginas, atingiu-se

Disseminando o bem e o mal através

Nos panfletos de muitos rostos

Nos compêndios dos acertos e desenganos

Na breve estória de sua glória e infâmia

 

Ah! Que fez de mim eterno legado!

Utilizando a pena como varinha de condão

E a tinta rubra de seu coração, me ilustrou...

Encantando as passagens em letras mágicas

Magicando em meu corpo versos labirínticos

 

Sou seu e serei sempre,

Um corpo vazio a espera

Na esperança que me de vida...

Desejando ardentemente

Seus garranchos desajeitados

 

Pois preciso deles imaculados

Assim são intensos e honestos...

E eu sei quando... Borras as letras com lágrimas...

Ah! Que adoro estas manchas em mim

São lindos pensamentos escorridos da alma

 

IV

Eu te amo por eles,

 

Pelo quanto é demasiado humano...

Naqueles livros arcanos que não escreveu

Aqueles de mistério, seus cemitérios...

Onde jazem sentimentos diversos

Nas lápides desgastadas por tantas desilusões

Folhas que estão flores não desabrochadas

 

Por favor, peço que toque minha alva pele

Toca estas notas em mim... Para mim...

Pois sei que ai dentro a música quer exalar

Então? Desabroche sua flor multicolor

Desfolhe os sons dos tons em minhas páginas

É em mim que encontrarão destino

 

Registra seus fragmentos do paraíso

Divague sobre suas equivocadas verdades

Transpire sua revolta e inspire-se em mim

Absolva os pecados respirando trovas e trovões

Viva e reviva seus amores, rancores e dessabores...

Deita este rio em minhas margens que eu represo...

 

V

Borre-me! Que sou eu!

 

Papel liso, branco, novo em folha!

Pronto a receber um pedaço seu

Seja ele qual for... Que me preencha...

Pois meu pálido vazio o quer muito...

Preste atenção Vida, quando você se for

Será em mim que suas partes se unirão

 

_____________MC Gervazoni

 

 

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