Onde limite é a virgula e não o ponto.
Pó
27/09/2013 07:51Oh! Quadro-negro de quão obscuros segredos
Maldição dos que se desgastaram versados em ti
Colegas gizes pretensos em revelar-te
Jazeram em pó, todos...
Dispersos a espanador pelos mestres
Eu sou só e mais um...
O lápis mais comum dos cândidos
Segurado a palmas de luz
Traçado a dor branca em negrito
Desenhando a essência no painel...
O que pensas de mim?
Mão que me suporta?
Esfregando-me em agudos gritos
Obrigando-me a chorar em linhas
Contínuas que foram às orações...
E de quem és tu, mão a professar?
Comprimindo e desbastando
Alimentando a lousa com meu corpo
Nutrindo tua dona com emanações
Fomentando nigérrima angústia em mim
Que posso eu iluminar a escuridão?
Repito, quem é a tola dona de ti?
Ficarei só o toco, pintando neve na noite terna...
Não sou calcário eterno...
E nunca foi minha vontade servir
Mas se for assim bem quisto,
Conceba-me então um pedido ímprobo;
Só quero desta vida uma sílaba
Duas letras nesta negra tela
Que nunca tenham sido gizadas
Não importará mais nada então...
Acariciado por ti ou maltratado por mim
Serei instrumento efêmero
Concebido em claro parto, portarei a luz que a escuridão anseia
Pactuarei com o verbo de minha alma em tuas mãos
Um dia chegará meu dia, e não poderás mais me segurar
Só lhe restará o apagador e a lousa cheia
E no fim, tudo recomeçará...
Pulverizado no Universo
Seremos nós (eu tu e a alma) pó em estrelas...
Texto: Maurício Gervazoni
Imagem: Google Images
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