Onde limite é a virgula e não o ponto.
Andorinha
03/07/2014 08:39Andorinha
Já fui embora do destino antes sequer dele chegar
Já me encontrarei em descaminhos antes mesmo de albergar
Já parti do quando e voltei do não sei onde...
Quando quis regressar para lá duvidei... Donde?
Não necessito de lugar algum
Nem mesmo nenhum lugar
Eis porque aqui não estive... Nunca me detive...
Nem perto... Nem longe... Nem dentro... Nem fora...
E não faz qualquer sentido
Sentir que um dia já tenha eu um dia partido
Se ainda hoje meu nada adeja no contexto todo
Voando ontem nas letras do texto de amanhã...
Sei que sou eu coisa alguma; uma lacuna...
Bagatela entre o zero e o infinito
Um ser arquitetado nas asas das brumas; uma runa...
Um bicho do ar, avoado, circunscrito em tudo...
Sobretudo nos livros, na maré das margens...
Nas vírgulas em que dou asas às novas viagens...
A viver de ver através de versos vinténs!
No resquício verde das palavras em que abrigo todos os bens!
Meu bem é assim que soo...
Nos incompreensíveis tons que desentôo
Neste canto Sol em Si; que do bico sai de Lá
Saí... Longe daqui donde já fui acolá...
E nas idas e vindas, estou partindo...
Até reconhecer-me em ti, passarinho...
Já bem-te-vi antes... E assoviei por teus olhos cânticos
Já sabiá trilava o sabor... Antes sequer de gorjear por teu nome
Já beija-flor senti o néctar... Dantes mesmo de penetrar tua flor
Já andorinha quis partir e repartir meu corpo no teu...
E nas vindas e idas, estou de chegada...
E te anunciei cantando amanhã antes da aurora
E o Sol lá se pôs em mim novamente...
Quando trinei, decidi... Escureci o dia...
Só porque passarei a noite aí contigo... Passado passarinho...
Sim...
Não preciso ir aninhar aí...
Mais uma vez pousar aí...
Mas eu voo...
Texto: Maurício de Carvalho Gervazoni
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